Tempo passa, bem lentinho – eu, querendo passar também. Ah,
mas eis que no último segundo, ele decide tomar impulso, rumo a um abismo infinito
cuja escuridão se escancara, e eu já nem sei.
Ele me encara, profundo. E me atrai, sua serenidade ardente, e me repele, seu estado insuspeitadamente permanente e reticente, em que se escondem mil vultos. E desde já,
me confundo. Entre o desejo de chegar e o tosco medo de partir, entre o cansaço
de esperar e o desespero de agir, entre a vontade de voar e o pavor de fugir,
e me perder, e perder tudo o que aprendi, cada vez mais, afundo. E me acomodo
de vez neste abismo, moribundo, tanto mais quanto menos profundo.
Mas, se é que já é mesmo hora de por fim a tanta espera, peço
à paz, ó paz, vê se me benze, me adultera, me convence que estou pronto pra
seguir. Pois que sem ti, ó paz, sem paz, sem ela, a escuridão ainda me assalta
feito fera, me engole, o abismo, me penetra - o tempo passa, mas eu vou ficando
aqui.