Eu quero a palavra sutil que se infiltre lenta na superfície dos teus cabelos negros,
que te penetre os olhos e os ouvidos e depois, mais rapidamente, avance sobre a tua alma,
depois o fígado, o pâncreas e todos os demais órgãos vitais – quiçá até o coração -
para só então te tocar a mente, mas só então, tão e somente.

21 de fevereiro de 2012

Meu amor, não cabes



   Passa segundo, passa minuto, passa hora, passa um dia inteiro, passam longos janeiros, fevereiros, passa o verão. E eu não passo da primeira linha.
   Venho tentado, em vão, te escrever uma poesia. Algo sobre como a luz da noite te bate o corpo e vira dia, ou sobre como o teu olhar transforma tudo no que maravilha, ou ainda sobre como toda a beleza do mundo apenas te reverencia.
   Ah, eu quis te escrever uma poesia sobre como a tua voz ao pé do ouvido é doce, doce melodia, sobre como o teu sorriso lindo derruba as muralhas do meu pranto, e contagia, ou sobre como a dor do peito a um só toque teu desanuvia.
   Quis te escrever uma poesia, mas não consigo, não conseguiria. Faltariam palavras para a minha descrição, escasseariam virtudes na comparação, faltaria muito, e talvez muito demais, para frasear o teu beijo, recompor meu desejo e delinear tamanha perfeição, que só eu conheço.
   Chego à conclusão de que meu amor não cabe em poesia, nem mesmo na minha. Transborda, a afeição, que afoga entrelinhas – e eu aqui, encharcada, eu aqui, ensopada, eu aqui, encantada, não passo da primeira linha.