Passa segundo, passa
minuto, passa hora, passa um dia inteiro, passam longos janeiros, fevereiros,
passa o verão. E eu não passo da primeira linha.
Venho tentado, em vão,
te escrever uma poesia. Algo sobre como a luz da noite te bate o corpo e vira
dia, ou sobre como o teu olhar transforma tudo no que maravilha, ou ainda sobre
como toda a beleza do mundo apenas te reverencia.
Ah, eu quis te
escrever uma poesia sobre como a tua voz ao pé do ouvido é doce, doce melodia,
sobre como o teu sorriso lindo derruba as muralhas do meu pranto, e contagia, ou
sobre como a dor do peito a um só toque teu desanuvia.
Quis te escrever uma
poesia, mas não consigo, não conseguiria. Faltariam palavras para a minha descrição,
escasseariam virtudes na comparação, faltaria muito, e talvez muito demais, para
frasear o teu beijo, recompor meu desejo e delinear tamanha perfeição, que só eu
conheço.
Chego à conclusão de
que meu amor não cabe em poesia, nem mesmo na minha. Transborda, a afeição, que
afoga entrelinhas – e eu aqui, encharcada, eu aqui, ensopada, eu aqui, encantada, não passo da primeira linha.