Não vivo, sobrevivo, e carrego uma bola de fogo no coração. Se me dou a andar, é só questão de tempo até senti-la batendo nas paredes do esqueleto, desafiando a alma, ou espírito, e lhe fazendo de amuleto - doído, dolorido e cintilante do nosso jeito - doendo, corroendo e queimando o tempo inteiro. Não há antídoto. Por isso, repito: não vivo, não vivo, sobrevivo – e apenas graças aos anestésicos benditos que me fazem esquecer, temporariamente, a dor. Anestésicos esses que você me dá na boca dia após dia pensando ser prova de amor e que, mesmo não revelando, sei inúteis, pois foi você quem, sem saber, ao coração incendiou, e com brasas de um fogo tão eterno e irremediável que faz da perda, o maior temor.
Esse barulho todo que denuncia as pessoas felizes parece cada vez mais distante de mim. Acho que estou mesmo profunda e irremediavelmente triste.