Se sou feita de papel, como transformar em vida aquilo que não escrevo? Escureço-me, escureço – na tentativa de clarear. Como endureço tentando amaciar. Como não há casca tão espessa que não possa engrossar, ou pedra tão dura que não permita água passar, ou amor que passe tão rápido sem antes marcar. Sei bem disso. E, como a luz que desfaz-se em véu sobre os restos de mais uma noite em claro, também eu, que não sou tão raro, necessito de amparo, necessito de cuidado.
Quando estou lá no alto, até penso que consigo agüentar tudo sozinha. Acontece que não consigo. Preciso sempre de uma mão, um ombro, um braço, ou qualquer outra parte de um corpo que me sustente, que me agüente, que me segure quando for chegada a hora do inevitável passo em falso. Talvez fosse melhor achar um jeito de suprir a mim mesmo disso tudo, sem precisar do outro. Ou talvez eu só precise aprender a confiar.
Corrida sem destino, pulo sem pára-quedas, salto na fé – ver a vida como ela é - com alguém sempre ao lado para impedir de tocar o chão, esse meu coração a pé: alguém como você, que antes mesmo de ser, o é.