Eu quero a palavra sutil que se infiltre lenta na superfície dos teus cabelos negros,
que te penetre os olhos e os ouvidos e depois, mais rapidamente, avance sobre a tua alma,
depois o fígado, o pâncreas e todos os demais órgãos vitais – quiçá até o coração -
para só então te tocar a mente, mas só então, tão e somente.

9 de janeiro de 2011

TODO DIA DE MANHÃ

   
     Você passa tanto tempo criando regra, limite, barreira e proteção pra vir um cara assim, de mansinho, chinelo e calção, tirar do bolso, o seu sossego, e da cruz, o seu coração; pra desafiar a sua graça, pôr em risco a sua raça e te fazer perder a razão? O que eu faço contigo, moço? Nem sei, não. Isso não tem cara de canção. É certo que a harmonia de nossos corpos tornaria invisível toda e qualquer imperfeição - e que isso daria um bom texto - mas. Mas como não escrevo, e nem me atreveria, permaneço estática, permaneço, e te transformo na mais bela poesia que conheço: a realidade, a vida – livre das amarras das palavras. Que é pra ver se ainda te tenho no outro dia para beijar as minhas pálpebras cansadas repetindo, reforçando, reiterando: eu estou aqui (e não vou deixá-la).



"Me atiro do alto e que me atirem no peito / Da luta não me retiro... / Todo dia de manhã é nostalgia das besteiras que fizemos ontem."
DE ONTEM EM DIANTE - O TEATRO MÁGICO