Eu quero a palavra sutil que se infiltre lenta na superfície dos teus cabelos negros,
que te penetre os olhos e os ouvidos e depois, mais rapidamente, avance sobre a tua alma,
depois o fígado, o pâncreas e todos os demais órgãos vitais – quiçá até o coração -
para só então te tocar a mente, mas só então, tão e somente.

22 de novembro de 2010

ORAÇÕES FUGITIVAS (Parte I)


     A chuva ia apertando e o coração apertando junto, doendo junto, tremendo do frio da estação. Também temendo, porém, o retorno do verão, que haveria de quebrar o gelo deste covarde coração e despertá-lo novamente pra vida. Mas ele ainda era frágil demais, afoito demais, e também despreparado e desesperado (em demasiado), e tinha muito o que aprender. Como a amar de longe, a precisar menos ou apenas não precisar tanto o tempo todo, a não se estraçalhar de angústia, medo, saudade e insegurança, como um tolo, a cada olhar destinado a outro - gente, bicho, pedra, o que fosse; Mas o coração jamais entende as coisas que são da mente. Entende.
     Mas nada importava agora, ainda não era verão. A chuva ia apertando e o coração apertando junto, doendo junto, tremendo, se remoendo, congelando e descongelando - eu só não sabia por que.