Eu quero a palavra sutil que se infiltre lenta na superfície dos teus cabelos negros,
que te penetre os olhos e os ouvidos e depois, mais rapidamente, avance sobre a tua alma,
depois o fígado, o pâncreas e todos os demais órgãos vitais – quiçá até o coração -
para só então te tocar a mente, mas só então, tão e somente.

29 de setembro de 2010

A natureza das coisas


Se soltas um balão cheio, ele voa
Se soltas um vazio, cai no chão

Se seguras um balão cheio,
Acredita quando digo
Que não há de ser em vão
Posto que quem o solta ou estoura
Logo percebe que não há volta,
Ou sequer direito de retratação

Porque se soltas um balão cheio, ele voa
Já se soltas um vazio,
Cai no chão

Balão vazio é pobreza, mesmice
Cair fácil e mole na mesma velha superfície
Nem sempre lisa, mas sempre dura
E real
Do chão
Por falta de sorte pura
De ter escorregado da mão

Balão cheio é beleza,
Nem a gravidade impede sua realeza
De seguir rumo ao Sol,
Às estrelas,
Ao perder-se de vista
Da arte idealista

Se encheres o balão, trata de zelar por ele,
Ao menos cuida dele
Jamais deixando que voe da mão,
Por mais sedutora que pareça a tal sensação
Tanto pra ti, quanto pro teu balão.

Sabe que mais vale um balão preso
Mais que um peso,
Mas na mão
Do que mil e um outros estourados,
Que mesmo livres, alforriados
Te doem até o coração