Eu quero a palavra sutil que se infiltre lenta na superfície dos teus cabelos negros,
que te penetre os olhos e os ouvidos e depois, mais rapidamente, avance sobre a tua alma,
depois o fígado, o pâncreas e todos os demais órgãos vitais – quiçá até o coração -
para só então te tocar a mente, mas só então, tão e somente.

25 de setembro de 2010

Au ciel de Paris


A gente sabe que se a gente se acaba, a noite acaba com a gente. E a gente sabe, a gente tão bem sabe, enquanto cai e quando acaba, que a noite está e vai caindo e acabando. E a gente não quer saber. Mas a gente sabe. A gente sabe que Sol é mentira e que tudo o que há de bonito no mundo noturno é a gente quem cria. E a gente sabe que quando Ele surgir não vai restar nada, que vai ser triste ver tanta esperança colorida, tanta coisa bonita, partida e quebrada, e que enquanto a noite se esvai, a gente se vai com ela, e de repente acaba. E a gente se esgoela. E a gente sabe que a gente sempre sabe que nem sempre vale a pena, que a noite é bem pequena, bem corrida, e que talvez só seja feliz quem nunca amou (n)essa vida, quem nunca viu o mundo como a gente sempre via. Mas ver doía. E a noite caía, a noite sempre caía. Sempre a mesma dança, a mesma melodia: a noite, caindo, e a gente caindo junto, no compasso da melancolia. A noite vai caindo. A gente vai caindo. E a gente vai se abrindo, vai abrindo as janelas, as portas e os braços bem abertos às dores antecipadas de futuras partidas, às coisas destinadas a serem perdidas, a tudo, meu amor, a tudo, tudo o que mesmo a gente desconhecia. Todas as gentes abertas, todas as mentes despertas, de braços abertos e olhos fechados. Só porque o Sol faz o contrário.



Quand elle lui sourit
Il met son habit bleu
Quand il pleut sur Paris
C’est qu’il est malheureux
Quand il est trop jaloux
De ses millions d’amants
Il fait gronder sur eux
Son tonnerre éclatant
Mais le ciel de Paris n’est pas longtemps cruel…
Pour se faire pardonner, il offre un arc-en-ciel…
(Sous le ciel de Paris - Edith Piaf)