Eu quero a palavra sutil que se infiltre lenta na superfície dos teus cabelos negros,
que te penetre os olhos e os ouvidos e depois, mais rapidamente, avance sobre a tua alma,
depois o fígado, o pâncreas e todos os demais órgãos vitais – quiçá até o coração -
para só então te tocar a mente, mas só então, tão e somente.

8 de setembro de 2010

Choose Life.

   
    Nem sei por onde começar, se é fato que todo começo que vislumbro se parece em-demasiado-e-tanto com um fim. Ah, os fins, os fins, os inevitáveis, insuportáveis, infindáveis fins. Deve ser isso, o amor, fragilizar-se no intento de sensibilizar o outro e poder, assim, aninhar-se em seus braços, desejo este, anseio este, necessidade esta que mesmo o arisco armazena lá dentro, lá no fundo do peito. Eles estavam certos, vivemos como nossos pais. E como os pais dos nossos pais. Somos fruto de gerações e mais gerações que nos ensinam a querer as mesmas coisas que elas, que eles, e nós aprendemos. Aprendemos a querer a cama quentinha, o sorriso de boas-vindas na porta de casa, e ver na tal casa um lar, um porto, um "sempre ter pra onde voltar" e, ainda mais, um bom motivo pra querer continuar lá. É. Lá no fundo, aos poucos todos nós vamos aprendendo a precisar desta tal coisa que sintentiza o ilusório saciar de todas essas necessidades, inebriante ilusão de paz, de eterno... Você sabe, planejar o dia seguinte sempre parece uma garantia de. Engulo em seco. Uma garantia. E tem até gente que passa a vida inteira a procura dessa coisa, fadada a jamais encontrá-la. E de tanto pensar, acabei me resolvendo por procurar um amigo com fama de sábio-sabido pra fazer a seguinte pergunta:
    - E se num dia qualquer ao estender os braços em gesto displicente, quase que inconsciente, como um simples bocejar, minhas mãos esbarrarem na tal coisa, sentirem a tal coisa, tocarem, apalparem e afagarem a tal coisa, como evitar o desespero do: "E agora?"?
        E tal foi a minha surpresa ao que respondeu:
        - E se ela fosse embora?


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