Eu quero a palavra sutil que se infiltre lenta na superfície dos teus cabelos negros,
que te penetre os olhos e os ouvidos e depois, mais rapidamente, avance sobre a tua alma,
depois o fígado, o pâncreas e todos os demais órgãos vitais – quiçá até o coração -
para só então te tocar a mente, mas só então, tão e somente.

31 de agosto de 2010

Júlia nova.


    Que que eu falo da tua dor, criança, que de tanta semelhança, com a minha empareou? Que eu faço do teu pranto que, tamanho o espanto, nem Sol secou? Ah, se eu soubesse ao menos um pouquinho demonstrar o quanto o meu carinho te quer bem mais forte. Mas, pra nossa sorte, vento que é vento-norte não anda desprevenido. Assim, solidário, cede-me uma caneta pra fazer par com o meu ouvido.
    - Ah, Júlia nova de caprichos. Ah, Júlia nova de lampejos. Ah, Júlia nova dos cachos de dor. Júlia nova, Júlia nova dos olhos tristes... Lua nova não brilha mais, eu sei. Júlia nova só quer é paz. Lua nova, sorri pra mim! Júlia nova, vê se chega ao fim... Aceita, Júlia nova, que nada se repete, que tudo adormece no circuito da dor. Que é nunca por inteiro, nunca d'outro jeito, parece até suspeito o que diz esse senhor, mas... há de ter beleza outra cena, mesmo que pequena, mesmo que não demais. Despede da dor, morena. Ah, morena. Se desfaz.
    Hoje a noite cai mais dura sobre os ombros de Júlia. E menos doce. E mais vida.