Eu quero a palavra sutil que se infiltre lenta na superfície dos teus cabelos negros,
que te penetre os olhos e os ouvidos e depois, mais rapidamente, avance sobre a tua alma,
depois o fígado, o pâncreas e todos os demais órgãos vitais – quiçá até o coração -
para só então te tocar a mente, mas só então, tão e somente.

28 de julho de 2010

Montanha Gelada


Uma dia escrevi sobre estar em um lugar onde fazia frio. Eu não sabia, como poderia saber?, mas a verdade é que ainda não havia conhecido o frio. Não, não tinha. Engraçado como anos depois as palavras continuam significando tanto. Ecoam. "Você me deixou". "Aqui, onde faz frio". Talvez não fossem essas as palavras exatas, a memória falha. Ou talvez, só talvez, na verdade sejam essas as palavras, as que eu quis escrever na época mas não escrevi. Talvez tenham permanecido no limbo da inconsciência por tanto tempo apenas esperando o momento certo para emergir, o momento agora, quem sabe?! Afinal, das palavras da cabeça, quantas chegam a ser escritas? E das palavras que são escritas, quantas delas são minhas? E tu, que fazes com esta caneta em punho que se finge de espada, cortando certeira minhas palavras, transformando meus sins em nãos? Que direito crês ter sobre as palavras que são nossas (suas, não)? Elas são nossas. Nossas.
É frio aqui, onde você me deixou. Mais do que você jamais imaginou.


*Inspirado no texto Burn (postado em 30/10/2008)