Eu quero a palavra sutil que se infiltre lenta na superfície dos teus cabelos negros,
que te penetre os olhos e os ouvidos e depois, mais rapidamente, avance sobre a tua alma,
depois o fígado, o pâncreas e todos os demais órgãos vitais – quiçá até o coração -
para só então te tocar a mente, mas só então, tão e somente.

12 de julho de 2010

Cell Block Tango


    Eu costumava julgar impossível dançar sem par. Contudo, hoje me vejo rodopiando sozinha pelo melancólico salão avermelhado do fundo da minha cabeça ao som de uma vitrola imaginária qualquer, e são três da tarde. Não me envergonho das fantasias que crio só pra aliviar a solidão. Bem sei que não passam de delírio, besteira, coisa da imaginação. Mas, entenda, este solitário dançar é minha forma particular de celebrar as mais profundas feridas e adocicar as tantas perdas, o desafio maior da vida. É por isso que canto, danço, grito e assovio. Minha poesia animal: esta força brutal que te causaria arrepios.