Eu costumava julgar impossível dançar sem par. Contudo, hoje me vejo rodopiando sozinha pelo melancólico salão avermelhado do fundo da minha cabeça ao som de uma vitrola imaginária qualquer, e são três da tarde. Não me envergonho das fantasias que crio só pra aliviar a solidão. Bem sei que não passam de delírio, besteira, coisa da imaginação. Mas, entenda, este solitário dançar é minha forma particular de celebrar as mais profundas feridas e adocicar as tantas perdas, o desafio maior da vida. É por isso que canto, danço, grito e assovio. Minha poesia animal: esta força brutal que te causaria arrepios.