Eu quero a palavra sutil que se infiltre lenta na superfície dos teus cabelos negros,
que te penetre os olhos e os ouvidos e depois, mais rapidamente, avance sobre a tua alma,
depois o fígado, o pâncreas e todos os demais órgãos vitais – quiçá até o coração -
para só então te tocar a mente, mas só então, tão e somente.

18 de junho de 2010

Doce Melancolia.


Sou muito dura, às vezes. Eu sei. Esse é apenas o meu jeito de esconder o quanto dói saber que a doença que me corrói não tem cura, entende?, não existe remédio pra solidão. Não existe remédio pra solidão, exceto convencer-se de que basta o ter - independente do que se tenha -, possessões essas que se resumem à solidão em si, à consciência de si e a dor gerada pelo processo. Esconder-me de mim mesmo e dos outros é o único remédio, a forma mais sincera de sobrevivência. É abrir-me, paradoxal, e expor as cicatrizes em verso. O sangue que escorre destas palavras, você sabe, vem do fundo mais fundo, do mais fundo fundo de minh'alma. São sempre cheias de mágoas. Deixo que sejam. E, ao que me abro, fechando, ao que vejo o sangue escorrendo e secando, tenho muito, e muito pouco a perder. Presente sublime, a amarga leveza de ser. Doce amargura, doce armadura: insustentável.