Sou muito dura, às vezes. Eu sei. Esse é apenas o meu jeito de esconder o quanto dói saber que a doença que me corrói não tem cura, entende?, não existe remédio pra solidão. Não existe remédio pra solidão, exceto convencer-se de que basta o ter - independente do que se tenha -, possessões essas que se resumem à solidão em si, à consciência de si e a dor gerada pelo processo. Esconder-me de mim mesmo e dos outros é o único remédio, a forma mais sincera de sobrevivência. É abrir-me, paradoxal, e expor as cicatrizes em verso. O sangue que escorre destas palavras, você sabe, vem do fundo mais fundo, do mais fundo fundo de minh'alma. São sempre cheias de mágoas. Deixo que sejam. E, ao que me abro, fechando, ao que vejo o sangue escorrendo e secando, tenho muito, e muito pouco a perder. Presente sublime, a amarga leveza de ser. Doce amargura, doce armadura: insustentável.