Eu quero a palavra sutil que se infiltre lenta na superfície dos teus cabelos negros,
que te penetre os olhos e os ouvidos e depois, mais rapidamente, avance sobre a tua alma,
depois o fígado, o pâncreas e todos os demais órgãos vitais – quiçá até o coração -
para só então te tocar a mente, mas só então, tão e somente.

12 de fevereiro de 2010



Tanto queria que pudesses ler meu silêncio... Seria tudo mais fácil, entendes?, bem melhor que se interrompido por um fluxo qualquer de palavras, essas que seriam sempre tão minhas e tão pouco tuas. A gente não consegue ler o que não entende ou sequer enxerga, entendes?, é perder tempo, o pouco tempo que nos resta. Transformar meu silêncio em palavras... sempre usamos das que mais nos agradam, não seria, portanto, mais fácil? Como queria que pudesses ler meu silêncio no lugar de obrigar-me a traduzi-lo em palavras... Tu me obrigas, entendes?, tu me forças a usá-las! Meu silêncio gritando em teus ouvidos: Não me obrigues, por favor não me obrigues a usar as palavras, é uma armadilha, elas querem me usar e me usam, tu bem sabes como me usam, como não passam de pequenas trapaças, pequenas grandes trapaças alvoroçadas, essas nossas palavras, palavras nossas de cada dia.
Ah, se pudesses ler o meu silêncio...
Mas não podes.