Eu quero a palavra sutil que se infiltre lenta na superfície dos teus cabelos negros,
que te penetre os olhos e os ouvidos e depois, mais rapidamente, avance sobre a tua alma,
depois o fígado, o pâncreas e todos os demais órgãos vitais – quiçá até o coração -
para só então te tocar a mente, mas só então, tão e somente.

9 de outubro de 2009

Paraquedismo Assumidamente Suicida.


Em minha queda reside meu triunfo. Meu trunfo. Minha lágrima é o meu troféu. As gotas de meu sangue, colírio pros olhos do mundo inteiro. A lama de minhas botas, seu líquido amniótico. E assim sobrevivemos.
Vejo a beleza da queda. Desde o primeiro momento em que irrompe de dentro da casca que a protege com tanto afinco até o último (e súbito), o de sua morte.
Vejo na beleza, a queda, e a beleza na queda. Toda fraqueza tão tipicamente humana e seu quê de divino, de brilhante paganismo. Sádico é aquele que se priva de tamanha beleza comprimida.
Não espero que tentem isso em casa, crianças, apenas desejo que possam ver o que vejo, e como vejo: Que abracemos a queda, sim, com toda a força. Nos deixemos ser por ela levados, atacados, embriagados. Apreciemos todos os seus mínimos detalhes, suas mais belas virtudes multifacetadas. Que possamos gozar dela como os adolescentes, inconsequentes. Que nos orgulhemos eternamente da tolice de se orgulhar de se orgulhar de ser fraco, de ser carne e de ser osso. Que a amemos com a fúria de loucos em busca de sua verdade há tanto perdida.
Ela será o peso e o alicerce. O frio e o quente. O positivo e o negativo. A única e verdadeira leveza possível para todo e qualquer ser.
Então (e somente então) poderemos descansar em paz. No refúgio de paz que a queda traz. Iremos escrever aos nossos netos pedindo pra que nos enterrem sob os seguintes vocábulos:
- Aqui jaz um ser muito humano.