Eu quero a palavra sutil que se infiltre lenta na superfície dos teus cabelos negros,
que te penetre os olhos e os ouvidos e depois, mais rapidamente, avance sobre a tua alma,
depois o fígado, o pâncreas e todos os demais órgãos vitais – quiçá até o coração -
para só então te tocar a mente, mas só então, tão e somente.

3 de junho de 2009

O vencedor leva tudo (Até que a vida nos separe).


Hoje é o dia da celebração,
Celebremos, então!
Um brinde a lembranças não esquecidas
A bocas ressequidas,
As mentiras bem quistas mal sombreiam a ilusão
Um brinde ao velório dos anseios,
Ao toque de falsos seios, à substituição

Um brinde a ti, minha amiga,
Que és tão vivida
A mim, já vivida
A nós, que ja(mais) vivemos
E às flores que recebemos.

Um brinde ao nó da garganta,
Àquele que rega a planta e ao regador.
Um brinde à falsa modéstia, falsa garantia,
Sinal da anistia do nosso pudor.
Aos relógios produzidos em série
Por matemáticos mal somados, tão sérios
E somas tão divididas.

Um brinde à criança que corre pelada
À juventude transviada, ao liquidificador.
Aos beijos sempre tão sonhados, aos aniquilados
Aos que gritam de dor.
Ao grito, aos cacos de vidro ou de um vampiro
Que se parte em tantos (sem guardar rancor).

Um brinde ao diabo escondido
Sob a pele de vizinho, sobre cada tremor.
Aos temores que guardamos de bandidos, de bomdidos imundos,
Vulgos vagabundos, que nos roubam o calor.
Ao calo que se vê pisado, sempre, sempre, aniquilado,
Sem perder a cor.
Ao sorriso guardado na mente, no pranto da gente, no nosso fedor.
Ao odor que remonta do passado, ao sangue pisado,
Ao suposto amor.

Pois hoje é o dia da celebração,
Celebremos, oremos, irmão!
Pelas almas perdidas, armas feridas, sofreguidão.
Celebremos a morte e a vida,
O fogo e a ferida,
O lobo e mordida,

Celebremos, irmão.
Olhe o calendário, é hoje o aniversário
Da separação.