Eu quero a palavra sutil que se infiltre lenta na superfície dos teus cabelos negros,
que te penetre os olhos e os ouvidos e depois, mais rapidamente, avance sobre a tua alma,
depois o fígado, o pâncreas e todos os demais órgãos vitais – quiçá até o coração -
para só então te tocar a mente, mas só então, tão e somente.

3 de maio de 2009

Canibais de nós mesmos.

Ainda não sei iniciar textos. Já me esqueci das conjunções. Não aprendi a construir barcos de papel. Treinei os versos e como falar difícil, mas ainda não sei fingir ou ocultar maiores verdades com uma peneira. Conheço métodos de separação de mistura que fogem aos dedos mas, não, nenhuma para essa. Tentei unir o útil ao agradável mas, não, não, não sei aceitar os fatos. Não se fugir ou ser fraco. Sei fechar os olhos, mas como abri-los? Não, não sei mentir com os olhos. Não sei não me importar com datas. Não sei fabricar sentimentos de plástico. Não sei queimar sentimentos de plásticos. Não sei quem tu és, quem vós sois, mas sei quem sou e danem-se os verbos, eles não são melhores do que ninguém. Ignoro a tabuada de oito e como raízes. Jogo bola com a Terra e me inclino tentando reconhecer Newton. Mas conheço grandes verdades e sei onde tu escondes seus medos. Sei de tuas mentiras e conheço teus segredos. Decorei teus nomes, sobrenomes, tatuagens e fiz listas só pra tirar-lhe um sorriso. Conheço o que teus olhos tentam esconder, o que teus olhos tentam mentir, o que teus olhos tentam pensar, o que teus olhos tentam sentir e de tudo o que eles se lembram. Lembro-me de tudo.
Mas eu não sei controlar o tempo. A caixa de nossas datas já não serve mais de alento. Nossos sonhos de plástico, jogaste ao vento. Tuas mentiras sinceras não mais me pertencem, desperdiçaste. E se eu acreditasse no que te forças a ver? Não vedes? Não sentes? E se fosse verdade? Não seria, pois.
Pois a cada dia que acordo e encaro nossas lembranças vivas e sonhos mortos, me pergunto onde está a parte mais importante.
Um coração em um envelope não pode ser entregue em mãos.
O calendário existe apenas para lembrar-nos de que o passado ainda respira.
Obrigado por me ter mastigado e, a cada dia, mais.

“I wondered what might happen if I left this all behind, would the wind be at my back? Could I get you off my mind this time?”

[n/a] Isso foi uma releitura do texto Start and Finish, postado no dia 3 de novembro do ano passado aqui.
http://euacreditoemhumanos.blogspot.com/2008/11/start-and-finish.html