Eu quero a palavra sutil que se infiltre lenta na superfície dos teus cabelos negros,
que te penetre os olhos e os ouvidos e depois, mais rapidamente, avance sobre a tua alma,
depois o fígado, o pâncreas e todos os demais órgãos vitais – quiçá até o coração -
para só então te tocar a mente, mas só então, tão e somente.

26 de abril de 2009

Blues da Piedade.

Protegi teu nome por amor e se o que é verdadeiro não se mede em tempo e não tem fronteiras, nada disso importa. Você tem exatamente um segundo para aprender a se amar e, sim, isso foi uma ironia. A pior recomendação possível para seres como você – e você, e você, e você – já que é só isso o que vocês sabem fazer. O canibalismo está na moda, tente entender. Mas como o futuro repete o passado, não há com o que se preocupar, exceto com as cicatrizes que inevitavelmente hão de aparecer. O futuro é belo incerto, mas tão previsível. Marca-se território pela escavação da própria sepultura. E a luz? O tal passado gélido e glorioso cheio de falhas, “essa é a vida que eu sempre quis”. Suas migalhas de ingenuidade vão sendo deixadas para trás na estrada e os pássaros as comem sem culpa mas, oh, que vergonha! Você perdeu o medo do esquecimento? Você perdeu o medo do comprometimento? Você perdeu o medo da luz e você, do escuro? Vocês podem rir, agora?
Amores inventados têm dias contados, pois nunca existiram, e mentiras sinceras não (mais) me interessam. E aos poucos se mostram os verdadeiros dignos de piedade.
Por isso, fique longe de mim. Não me dirija a palavra. Não me olhe com olhos de hipocrisia fingindo se importar. Não sorria esse seu riso triunfante. Não fale. Não respire. Não seja, não... Não. Eu lhe imploro, não. Pois em cada palavra, em cada sorriso, em cada olhar, estariam impressas as digitais das inúmeras mentiras que os cercam, mentiras passadas, mentiras futuras e, as piores de todas, as atuais. E são mentiras que se repetem tanto a ponto de eu não conseguir acreditar que alguém ainda acredite nelas. E eu não vejo nem um pingo de verdade.
Mentiras sinceras não me interessam e apenas uma verdade me satisfaz.
Onde estão as boas maneiras?

“Vamos pedir piedade, pois há um incêndio sob a chuva rala. Somos iguais em desgraça, vamos cantar o blues da piedade! Vamos pedir piedade, senhor, piedade. Pra essa gente careta e covarde Vamos pedir piedade, senhor, piedade. Lhes dê grandeza e um pouco de coragem.”

[n/a] Inspirado em algumas músicas do Cazuza.