Eu quero a palavra sutil que se infiltre lenta na superfície dos teus cabelos negros,
que te penetre os olhos e os ouvidos e depois, mais rapidamente, avance sobre a tua alma,
depois o fígado, o pâncreas e todos os demais órgãos vitais – quiçá até o coração -
para só então te tocar a mente, mas só então, tão e somente.

29 de março de 2009

Biótopo.

Eu sou a lei e não deveria me preocupar. Eu as faço e me faço e refaço e só paro por mantimentos ou desejos carnais, nunca para pensar.
Esperança, meu bem, foi um substantivo criado pra que o pobre calasse a boca e se jogasse no chão. Sejam invisíveis! A massa se debate na massa e conversa sobre massa, parindo massa. E, oh, quanto oxigênio não-inalado e excesso de falta de fala de falta, de riqueza de espírito e tudo o que o poeta prezava. Sua vida me foi tirada e em seu lugar nasceu um pirata.
Eu sou a lei e não ouse me contestar!
Súditos infiéis, desleais, que bebem do próprio sangue, comem da própria carne, rasgam as próprias roupas, comem as próprias crias, nadam no próprio lixo. Filhos bastardos de uma nobreza pífia, ignorante, covarde, fajuta, fajuta, fajuta, fajuta. Nada disso me pertence (mais).
“Deus por todos!”
Deus me livre...
Não conhecia o amor ou ideais ou nada que lembrasse as próprias rimas de outrora.
Não sentia dor, arrependimento, lágrimas ou saudades carnais.
Pífio, pífio, pífio soldado tolo!
Poemas, flores e sua capacidade de antecipar o fim do amor, ou anuncia-lo. Incapacidades.
Pífio, pífio, pífio, pífio soldado bobo. Mamãe já disse pra não voltar aqui!
No chão, na lata, boca calada, invisível, tentou fingir. Tentou fugir. Foi abatido, se abateu! Sem massa, oxigênio, espírito, poesia. Em seu lugar, um pirata e a falta que nunca falta. Apenas um.
Soldado pífio, pífio... Soldado bobo! Um louco pífio. Um poeta pífio. Um cego de amor.

“Falecendo no triunfo, como fogo e pólvora, que num beijo se consomem.”