Eu quero a palavra sutil que se infiltre lenta na superfície dos teus cabelos negros,
que te penetre os olhos e os ouvidos e depois, mais rapidamente, avance sobre a tua alma,
depois o fígado, o pâncreas e todos os demais órgãos vitais – quiçá até o coração -
para só então te tocar a mente, mas só então, tão e somente.

10 de março de 2009

Sina nossa.

O meu humor varia de lar em lar, de bar em bar. Da forma com que segura um copo ou um corpo ou geme em um esforço quase inútil para modifica-lo. Ele muda como maus tratos mal vistos e abstratos a cada coração que visito e cada emoção que desdobro e cada unha que descasco, como tem de ser. E me serve de abrigo, pois abrigo nessa cidade não há. E me serve de depósito para cargas e mais cargas de sacos cheios de boas intenções, carinho e subserviência. E me serve de troféu pela abundante paciência que nos falta. E me serve de relógio, registrando, minuto por minuto, segundo por segundo, dia após dia, quanto tempo nos resta até a eternidade. E me serve de orgulho, por ser essencialmente inabalável e superficialmente frágil, como (todas) as coisas deveriam ser. E me serve de crachá, de aviso, de proteção, de fuga.
E me servirá de consolo quando nada mais servir.
O meu humor, que varia de bar em bar, de lar em lar, pode ter a forma de um copo ou corpo e gemer em um esforço quase inútil para modificar-se. Ele tenta mudar como maus tratos mal vistos e abstratos a cada coração que visita e cada emoção que o desdobra e cada ferida que descasca, como tem de ser. E não possui abrigo, pois abrigo nessa cidade não há. E não possui depósito, pois sacos, já cheios de boas intenções e carinho e subserviência, ficam cheios! E não recebe troféu, pela obrigatoriedade que carrega como fardo. E não possui relógio, pois é eternidade. E não tem orgulho, por ser superficialmente inabalável e essencialmente frágil, como (todas) as coisas são. E não possui crachá, aviso, proteção ou rota de fuga.
E me servirá de consolo quando nada mais servir.
Servirá de consolo quando nada mais me servir.