Eu quero a palavra sutil que se infiltre lenta na superfície dos teus cabelos negros,
que te penetre os olhos e os ouvidos e depois, mais rapidamente, avance sobre a tua alma,
depois o fígado, o pâncreas e todos os demais órgãos vitais – quiçá até o coração -
para só então te tocar a mente, mas só então, tão e somente.

26 de fevereiro de 2009

Anjo.

        Para alguns, criatura celestial superior aos homens. Ajudante, mensageiro de Deus. Para outros, narrativa de Gersão sobre uma crise familiar no século XX. Para outros, ainda, uma estação de metrô em uma capital famosa. Mas aqui vai uma teoria, digamos, alternativa, para o conceito da palavra “anjo”.
        Anjo é aquele que te ajuda a enfrentar a noite e as lágrimas. Aquele cujas lágrimas curam sem deixar cicatrizes, que seca as lágrimas e engole as cicatrizes e os temores. Aquele que quebra muros e paredes e pedregulhos e preconceitos e orgulhos e afirmações e negações e interrogações com a luz de um sorriso, de seu próprio sorriso, uma luz que vem de dentro, uma luz que não se sabe e não se vê, somente existe. E não importa o que aconteça, o anjo aparecerá e te salvará esta noite. O seu anjo aparecerá e fará com que tudo pareça tão bem. E mesmo que a solidão queira te levar para passear, ele estará lá. Ele será o Sol, eterno Sol, em terno, em sol e papel de bala e cetim esgarçado.
     Mas como identificar um anjo disfarçado em carne e pele e osso e erros? Humano demais para um anjo, anjo demais para um humano. Como saber? Como ver? Como sentir? Como não deixar que o anjo escorregue pelos seus dedos e não vá embora?
     Se ele for um anjo, não irá a lugar algum. Se ele for um anjo, estará sempre presente na sua mente, no seu coração, e só isso já te acalmará em qualquer situação. Ele estará atrás da árvore rechonchuda que te fará tropeçar para te segurar, se você cair. E, acredite, você cairá. E mesmo com todas as lágrimas e as cicatrizes e as paredes e as negações, ele estará lá. Para sempre. Olhando de longe. À espreita. À espera.
        Ele será o Sol, eterno Sol, em terno, em sol e gotas de chuva. Porque anjo que é anjo, não morre. Vira, apenas, luz.


[n/a] Inspirado na música Angel do Aerosmith, sugerida pela Ryvus, e dedicado a todos os anjos da minha vida.