Hey, Jude

Hey, Jude, don't make it bad,
Take a sad song and make it better
Remember to let her into your heart,
Then you can start to make it better.

Senti, então, um forte arrepio. Eu poderia culpar o vento frio que batia fortemente no vidro fechado da janela do carro ou os movimentos circulares que o rapaz sentado no banco do carona fazia com o dedo indicador sobre as minhas mãos pálidas e frias. Mas eu sabia exatamente de onde vinha aquela sensação. Era da música que tocava no rádio, aquela que eu havia feito nossa há tempos e que, por isso, havia se tornado para mim tão triste. O silêncio que pairava sob a grossa chuva de novembro era culpa minha. Era tudo culpa minha. Eu o quebraria, se pudesse, mas estava esperando pelas palavras perfeitas, que eternizariam aquele momento como o primeiro em que eu não teria estragado absolutamente tudo. Talvez elas o convencessem a ser meu novamente, agora e sempre. Talvez fosse apenas muita pretensão minha.

Hey, Jude, don't be afraid,
You were made to go out and get her,
The minute you let her under your skin,
Then you begin to make it better.

De qualquer forma, tais palavras não vieram. O brilho repentino que tomava conta de seus olhos a cada menção de fala que eu fazia, tornava-a ainda mais difícil. Era um brilho de expectativa, de receio. A verdade é que eu tinha medo de falar tudo o que se passava pela minha mente e coração. Tinha medo de que o que eu falasse, quando falasse, não fosse o suficiente. Tinha medo de que brilho todo apagasse e restassem apenas cinzas. Tinha medo de não conseguir fazê-lo sentir na pele o que eu sentia por ele. Ah, como eu queria que ele acreditasse! Mas todo esse medo acabava se refletindo nesta falta de palavras, neste silêncio e nessa música, me levando a outro medo, dessa vez maior e pior do que todos citados anteriormente. E se ele interpretasse o meu silêncio como uma incerteza? Eu precisava quebrar aquele silêncio. Eu precisava falar algo, por mais estúpido e sem nexo que fosse. Eu precisava fazê-lo acreditar em mim, fazê-lo acreditar em nós. Porque de uma coisa eu tinha e tenho certeza: não consigo ver felicidade maior do que aquela que eu sinto quando estou em seus braços.

And anytime you feel the pain,
Hey, Jude, refrain,
Don't carry the world
Upon your shoulders.

Fechei os olhos com força, tentando clarear as idéias. Talvez ele tenha percebido a guerra interna que ocorria em minha mente, pois imediatamente postou seus braços sobre meus. Apesar daquele contato suave entre nossos corpos amenizar um pouco o meu estado emocional, parecia que a dor de alimentar aquele silêncio aumentava a cada segundo. Eu precisava dizer algo, eu precisava! Mas aquele abraço estava tão, tão, tão bom...
Respirei fundo. Era agora ou nunca.

Hey, Jude, don't let me down,
You have found her now go and get her,
Remember (Hey Jude) to let her into your heart,
Then you can start to make it better.

- Eu te amo – sussurrei no pé do ouvido do outro e as lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto, dando início a um choro compulsivo e descompassado. Pressionei meu rosto fortemente contra seu ombro, a fim de que pudesse, de alguma forma, ocultar a visão do inferno que era a minha pessoa chorando.
- Isso – respondeu o outro, parecendo fazer esforço para manter o tom de serenidade na voz – era tudo o que você queria me dizer?
Em resposta, acenei positivamente com a cabeça. A ansiedade tomava conta de mim e eu me sentia como uma criança apaixonada. Ou talvez eu fosse uma criança apaixonada. Isso me deixava feliz, de certa forma.
Mais alguns segundos de silêncio. Eu estava começando a odiar isso.

Hey, Jude, don't make it bad,
Take a sad song and make it better,
Remember to let her under your skin,
Then you'll begin to make it better.

- Então eu tenho duas coisas para te falar. Na verdade, acho que são três. – respirou fundo e passou a alisar os meus cabelos – A primeira é que eu também te amo. Eu sempre te amei, baby, e espero que o que eu direi em seguida não te faça duvidar disso.
- Eu não duvido... – respondi, engolindo em seco à espera pelas suas próximas palavras.
- Mas a verdade é que eu não – seu celular apitou algumas vezes, sobressaltando-o. Tirou-o do bolso e o observou por um tempo. Pude perceber que uma pequena ruga já surgia em sua testa. – Eu preciso ir.
- Não, espere – disse fracamente, segurando-o pelo braço – Por favor, não me deixe sem resposta...
- A verdade é que eu não acredito mais na gente. – disse, se desvencilhando de mim para abrir a porta do carro – Não mais. – e foi embora.

Na, na, na, na na na na, na na na na, Hey Jude.

Enquanto o via andando debaixo da chuva espessa que caía, com os cabelos molhados recebendo fortes rajadas de vento, eu não conseguia mais chorar. De alguma forma, a dor que eu sentira segundos antes não existia mais. Em seu lugar, havia apenas uma amargura, um sentimento de impotência associado a um vazio tão grande quanto o do estacionamento em que eu estava, na companhia única do meu Chevette 80 amarelo-ovo.
Eu não iria desistir dele. E o mais importante, eu não iria deixá-lo desistir de mim. Enquanto o fogo em seus olhos queimasse e nutrisse a minha chama, seu coração batesse no compasso do meu passo e, principalmente, enquanto os meus braços encaixarem perfeitamente em seus abraços... Bem, eu o amarei.
Então a música acabou. Era hora de ir para casa.

Na, na, na, na na na na, na na na na,
Hey Jude...


[n/a] Bem, isso foi uma SONGFIC que eu ia postar em um lugar específico, como forma simbólica de mostrar algumas coisas. Mas hoje a internet resolveu me boicotar, é, e não foi possível que eu fizesse.. hm, isso. Então foi ela que estragou o que era pra ser o presente perfeito .-. Mas, hm, mesmo assim esse texto foi dedicado a você, o aniversariante de hoje, e eu espero que você tenha gostado dele e, hm, que ele tenha te esclarecido algumas coisas. Feliz aniversário, <3
[n/a]² Bem, consegui postar *-*' http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs.aspx?cmm=3682584&tid=5282588038052207077&na=4 !