Eu quero a palavra sutil que se infiltre lenta na superfície dos teus cabelos negros,
que te penetre os olhos e os ouvidos e depois, mais rapidamente, avance sobre a tua alma,
depois o fígado, o pâncreas e todos os demais órgãos vitais – quiçá até o coração -
para só então te tocar a mente, mas só então, tão e somente.

10 de novembro de 2008

Social Suicide.

O ser humano, de um modo geral, possui uma grande dificuldade em lidar com a perda. Tal característica, porém, é completamente aceitável e até mesmo compreensível. Ela demonstra o amor que é dedicado à vida e às pessoas, que não deve jamais ser visto como algo negativo. Porém, como em todos os outros aspectos da vida humana, mesmo este sentimento tão bonito deve ser dosado, ocorrendo de forma saudável e equilibrada. Caso contrário, pode acabar tornando-se uma (n/a: adoro esta palavra) obsessão.
Cientificamente, obsessão é um distúrbio emocional e psicológico que consiste na fixação por algo ou alguém, levando o indivíduo a fazer coisas que geralmente não faria (desde contar pequenas mentiras ou ter ciúmes exagerados, até praticar espionagens,
assassinatos, suicídios, estupros, seqüestros, entre outros). Uma pessoa obcecada perde o total controle sobre si mesma. Ela deixa de viver para si e passa a viver em prol de um outro ser ou objeto, que se torna seu objetivo fixo, seu ideal. Elas tendem a amar demais e, obviamente, a sofrer demais.
A sociedade é um mecanismo cruel que utiliza o preconceito e a discriminação como pilares de uma estrutura que quer que alguns acreditem ser inferiores a outros. Ela tende a julgar e criticar aqueles que sofrem de obsessão, sem levar em consideração que esta é uma doença, das que requerem tratamento. Não percebe que tal tratamento é justamente o oposto do que geralmente ocorre, consiste na compreensão, no apoio, no carinho, no cuidado. Não percebe que todos estamos sujeitos à ela, visto que a linha que separa a sanidade e a
loucura é tênue demais, frágil demais. Não percebe que a obsessão não passa de um aspecto comum a todos: a dificuldade em lidar com a perda, seu estado mais avançado. Ela julga e continuará julgando, quando, se olhasse para si própria, perceberia que é movida por doenças muito mais graves e abomináveis.
Como se cura uma doença social?