Eu quero a palavra sutil que se infiltre lenta na superfície dos teus cabelos negros,
que te penetre os olhos e os ouvidos e depois, mais rapidamente, avance sobre a tua alma,
depois o fígado, o pâncreas e todos os demais órgãos vitais – quiçá até o coração -
para só então te tocar a mente, mas só então, tão e somente.

2 de agosto de 2015

revi


quando passou o dedo nos cabelos dela, mal sabia que era nos meus que ficaria o cheiro. quando encostou a boca no lábio dela, era na minha que permaneceria o gosto. quando juntou o corpo ao corpo dela, era o meu que queimaria em brasa. insustentável brasa. que calor, o daquela noite. eu estava lá, onde você estava. insuspeitada, escondida por entre os fios dos seus cabelos negros. me traí com você, suguei a língua, enfiei o dedo, senti queimar. mas pude ver-te indo embora, quando tudo acabou. já eu, descabelada, ofegante, despedaçada – eu fui obrigada a permanecer lá. eternamente, lembrando. revivendo. e morrendo, um dia de cada vez.