Eu quero a palavra sutil que se infiltre lenta na superfície dos teus cabelos negros,
que te penetre os olhos e os ouvidos e depois, mais rapidamente, avance sobre a tua alma,
depois o fígado, o pâncreas e todos os demais órgãos vitais – quiçá até o coração -
para só então te tocar a mente, mas só então, tão e somente.

6 de agosto de 2011

QUAL A PALAVRA?


     És o meu passarinho, e eu sou a tua flor cheia de espinhos. És o meu beija-flor, e eu sou a tua rosa vermelha de amor. És quem me suga a vida, e cuja própria vida me doa sentido. Sou quem te fere descuidado, e cujos espinhos te ensinam a voar mais alto. Nossas dores se combinam, nossas sinas se ensinam, e aprendemos a harmonizar os nossos caos internos e diários. E, apesar disso, continuamos à procura da palavra.
     Eu quero a palavra sutil que se infiltre lenta na superfície dos teus cabelos negros, que te penetre os olhos e os ouvidos e depois, mais rapidamente, avance sobre a tua alma, depois o fígado, o pâncreas e todos os demais órgãos vitais – quiçá até o coração – para só então te tocar a mente, mas só então, tão e somente. Quero a palavra que nos cure os receios, que nos apague as mágoas e separem os sentimentos da razão. Quero a palavra que nos retrate e exceda, que nos comova, e mova, e, lenta, nos torne tão puros e macios quanto uma seda. Desejo a palavra capaz de cegar as lâminas de nossas palavras e sugar todo o veneno da ponta de nossas línguas afiadas. Necessito desta palavra-chave, deste nosso código secreto, senha para o amolecer de nossos corpos por um simples pensamento. Preciso desta palavra pra te manter ameno, meu amor, e me manter pleno, e nos manter assim, escravos eternos de um amor sereno. Do nosso amor, Pequeno.
     Ao fim de um túnel longuíssimo de escuridões e epifanias, de um túnel estúpido de monstros aquáticos, capitães e sesmarias, de um túnel imerso em sonhos e utopias, ao invés de luz, há a vida. Qual delas você escolheria?