Cometo os mesmos erros todas as vezes. Desenho palavras que não queres ler ou ouvir, desenho palavras que nem sempre são reais, desenho palavras pra lhes tornar imortais, e que o tempo apaga. Meias-palavras, sempre furadas, ganham jeito e forma, ganham cara de fim. Nesses tempos difíceis, a gente tem que se segurar pra não correr pros braços do outro, a gente tem que ser maior que isso tudo, a gente tem que ficar duro, tem que prender o gozo, o choro e as palavras de amor.
É certo que o meu canto é correria e que a minha histeria te conforta, mas nada disso conforma: cuspir palavras deixa com gosto de veneno o céu da boca. Então, me beije a boca e lhe absorva, e me absorva, e se absorva – mas não morra. Teu mais breve instante se tatua no gosto, no gesto e na estampa da minha roupa. Tua alegria me fascina e me derrete toda, porém, se te desenho, é só pra manter a loucura distante, disforme, difusa, confusa, pra manter louca, a loucura, louca, louca, longe-perto de mim.
Sensível a cada toque mínimo, mais frágil a cada suspiro, mesmo te afligindo, ao chão eu me atiro, antes de ser derrubada, muralha de areia, pelo teu sopro mais sutil: queda programada, ainda que não calculada, suicídio preventivo. Eu sei, tenho o dom de ser pesada – palavras sempre no mesmo tom do entre-cruzes-e-espadas. Sente o peso das minhas patas? Em verdade, ainda não sei ser de tijolo, ainda não fui balanceada, apenas falseio e dissimulo, apenas enrijeço o corpo, meio princesa e meio ogro. Tenho camadas.
Unidos pela fé nas co-incidencias e coisas boas da vida, passando por cima das incongruências desta subvida mais que sofrida e respirando o ar mais falsamente puro de uma praia imaginária da Bahia: Me abraça, amor, e vamos pra Avenida. Liberta-me da loucura, labirinto, quebra-cabeça, bicho de uma ou duas. Sabes que me fascina, a loucura, mas - e peço, encarecidamente, que não o contes a ninguém - a verdade é que o teu corpo me agrada mais.