Eu quero a palavra sutil que se infiltre lenta na superfície dos teus cabelos negros,
que te penetre os olhos e os ouvidos e depois, mais rapidamente, avance sobre a tua alma,
depois o fígado, o pâncreas e todos os demais órgãos vitais – quiçá até o coração -
para só então te tocar a mente, mas só então, tão e somente.

6 de dezembro de 2010

MESTRE DOS MARES


Fiz da palavra única companheira, que já não suporto mais os homens e suas pequenas manias corriqueiras. Sendo bem sincera, apenas não suporto, nem a mim nem a ninguém. Estou cercada por correntezas contínuas e suspeitas que não me deixam sair do lugar. Estou, eu mesma, contínua, suspeita e sufocada na imensidão deste mar sem fim que descortina ao meu redor arrancando toda pontada de desespero que poderia haver em mim. E no meio disso tudo, só sei de uma coisa que poderia me tirar desta maré de más sortes e desfortunas. É você, a quem grito ajuda, ajuda. Porque lhe preciso, porque não tenho força para nada além de gritar como quem não tem mesmo mais nada a perder, como quem não faz questão de ter voz na garganta se não houver você para dar asa às minhas incoerências e me fazer voar; joga a âncora que não tenho força para levantar, que só assim suporto qualquer maré alta, qualquer correnteza, qualquer lua cheia. Porque é você a quem grito ajuda, ajuda. E sei que já não preciso ter medo, se tiver você.