Aprendi muitas coisas contigo, como o valor das cenas cortadas das novelas em que o protagonista está vestindo a cueca ou escovando os dentes, a beleza do que vem depois das juras épicas dos diálogos dos sonetos, de uma Julieta descabelada com cheiro de sexo e um príncipe encantado fazendo ovo mexidos com queijo. Ah, como eu adorava aquele seu jeito de romantizar cada momento do dia, você me eternizava inteira, entende?, e eu amava ser eternizada. Ainda assim, entrego-te aos braços de outra, olhos fechados, coração apertado, como se um simples "Guarde bem o meu tesouro" fosse garantir-me conforto ou assegurar-me de que, voltando, ainda estarias lá, no mesmo bat-lugar, o mesmo cheiro, os mesmos tiques, os mesmos medos, as mesmas varizes e as mesmas manias. Mas não, eu não tenho garantia. Como também não tenho escolha. Nada tenho agora além destas mãos vazias e dessa esperança enorme de que nos voltemos a ver um dia, de que eu possa ser novamente recebido à porta de casa por seus grandes olhos negros de águia, tão alertas quanto receptivos, tão ferozes quanto araques, e tão. Na esperança de que algo compense a insuportável espera, o infinito medo e essa magistral apreensão de olhar pro meu lado, local a que legitimamente pertences, e não te ver, e de olhar pra dentro e não ver nada além dos rastros e manchas de sua enorme ausência. Mas caso nada disso aconteça, caso tudo tenha mudado de fato e não reste mais nada de nosso passado.... sem problemas, tudo bem. Porque ela não sabe, e talvez nem mesmo você, mas a verdade é que enquanto me eternizavas, querido, tu te eternizavas também, junto - juro! - e por isso te tenho eternizado. Entenda, tenho-te eternizado. E é ao meu lado.
22 de novembro de 2010
ORAÇÕES FUGITIVAS (Parte III - final)
Aprendi muitas coisas contigo, como o valor das cenas cortadas das novelas em que o protagonista está vestindo a cueca ou escovando os dentes, a beleza do que vem depois das juras épicas dos diálogos dos sonetos, de uma Julieta descabelada com cheiro de sexo e um príncipe encantado fazendo ovo mexidos com queijo. Ah, como eu adorava aquele seu jeito de romantizar cada momento do dia, você me eternizava inteira, entende?, e eu amava ser eternizada. Ainda assim, entrego-te aos braços de outra, olhos fechados, coração apertado, como se um simples "Guarde bem o meu tesouro" fosse garantir-me conforto ou assegurar-me de que, voltando, ainda estarias lá, no mesmo bat-lugar, o mesmo cheiro, os mesmos tiques, os mesmos medos, as mesmas varizes e as mesmas manias. Mas não, eu não tenho garantia. Como também não tenho escolha. Nada tenho agora além destas mãos vazias e dessa esperança enorme de que nos voltemos a ver um dia, de que eu possa ser novamente recebido à porta de casa por seus grandes olhos negros de águia, tão alertas quanto receptivos, tão ferozes quanto araques, e tão. Na esperança de que algo compense a insuportável espera, o infinito medo e essa magistral apreensão de olhar pro meu lado, local a que legitimamente pertences, e não te ver, e de olhar pra dentro e não ver nada além dos rastros e manchas de sua enorme ausência. Mas caso nada disso aconteça, caso tudo tenha mudado de fato e não reste mais nada de nosso passado.... sem problemas, tudo bem. Porque ela não sabe, e talvez nem mesmo você, mas a verdade é que enquanto me eternizavas, querido, tu te eternizavas também, junto - juro! - e por isso te tenho eternizado. Entenda, tenho-te eternizado. E é ao meu lado.
