De todas as promessas que já fez, admito, nenhuma me afetou mais que esta, que estas, estas presentes, pois que, por seu intermédio, mostra-se tempo todo ausente e ainda mente, espalhando suas juras displicentes e desperdiçando, em vão, saliva e mente com esse tanto de gente que nem mora no coração. Mas ela sabe tão bem quanto eu do pesado fardo que carrega e de seu duro semblante, tão pesado quanto o meu, tão duro quanto o meu, e as mãos, tão pálidas, a testa, tão franzida, e as emoções, tão frias. Sim, eu sei. Portanto, não acredito no que diz, não acredito nela. Ainda assim, ela me assusta. Ela me ameaça a estabilidade. É incrível que sua total ausência de verdade passe despercebida aos olhos deles enquanto eu, logo eu, sou tachado de perigoso e marginal. Eu, que não minto ou omito, que nem ao menos finjo, no máximo fujo, que só sou um pouco sujo e um pouco muito confuso. Mas sou real, inteira e intensamente real. Penso que é por isso que não me perdoam, que me rendem, tacham e desacreditam: porque não vivo simulacro, não faço da vida o palco das minhas maiores mentiras ou sequer acho graça em reproduzir juras de amor pra qualquer desconhecido. Estou cansado, farto, e não consigo. Não consigo mais pensar no que fazer. Não consigo mais pensar no que fazer pra convencer-lhes de que. De quê? Não sei. Só sei que a odeio com todas as minhas forças, pois sabe, como ninguém, ser essa coisa que eu jamais soube.
- Saiba que se fosses palpável, menina, te botava na boca e engolia inteira, arranjava qualquer maneira de te esmagar com o dedo como a um inseto, rastejante, asqueroso, sem asas, qualquer, assim rápido, assim fácil, te mataria por roubar os meus sonhos todo dia enquanto respiras, sem o menor esforço, como que rindo do meu sangue e suor, da minha dor e da minha luta. Não és real, menina, não és real. Menina-dura, mentira-fria, fera-ferida, por que não desapareces da minha vida?