Eu quero a palavra sutil que se infiltre lenta na superfície dos teus cabelos negros,
que te penetre os olhos e os ouvidos e depois, mais rapidamente, avance sobre a tua alma,
depois o fígado, o pâncreas e todos os demais órgãos vitais – quiçá até o coração -
para só então te tocar a mente, mas só então, tão e somente.

21 de maio de 2010

Sobre a cegueira



Como amo odiar-te, menina
Como adoro o nojo que vez ou outra sinto por você
Como me divirto com tanta desgraça, menina
Tanta desgraça provocada por
você

E como é engraçado, menina,
Ai, menina, como é engraçado
Conhecer seus métodos mais arcaicos,
Artimanhas mais elementares
E, ainda assim, peculiares
De esconder teus pecados,
De impedir que se perceba que seus olhares
Não passam de mentira, menina
Que não passa de mentira-menina:
- Minha pequena mentirosinha.

Ah, e como é bom te ver roubar pão
Te ver perder a razão
Na casa de sua própria menina
Que sozinha, sozinha
Também já foi tão minha

E como amo odiar-te, menina,
Como adoro o nojo que hora ou outra sinto por você,
Como amo, menininha, e como odeio
Tudo aquilo que te cerca
e que você não vê.