Encarrego-me de cuidar da tua dor
Não por amor,
Mas por desamor
Desamo a tua dor tanto quanto a minha própria,
Tanto que tua ferida em brasa queime a mim um tanto,
Que tua lágrima gere em mim um rio calado de pranto
Que teus braços vazios atraiam a mim prum abraço sem canto
ou espanto
Abraço apertado,
Desesperado
Como nas fugas de carro com vento acariciando-lhe a face,
Como nas curvas de outrem contornadas pela ponta de dedo gelada,
Como nos abraços de amigos tão perigosamente entrelaçados,
Como quando amamos, em algum lugar do passado,
Esse olhar
É olhar de consolo,
Esse peito
É peito de consolo,
Esse braço
É braço de consolo,
Esse ombro
É ombro de consolo
Tanta dor inesperada
É dor compartilhada
Enquanto a tua lágrima une-se à minha lágrima
E quando a tua lágrima une-se à minha lágrima
Tornam-se doces, entende?,
Tornam-se doces
E se doce é a realidade,
Digo-lhe que a eternidade
Quase parece possível,
Sim, a eternidade quase parece possível,
Pois hoje encarrego-me de cuidar da tua dor
Não por amor
Mas por desamor:
- Eu desamo a tua dor.