Eu quero a palavra sutil que se infiltre lenta na superfície dos teus cabelos negros,
que te penetre os olhos e os ouvidos e depois, mais rapidamente, avance sobre a tua alma,
depois o fígado, o pâncreas e todos os demais órgãos vitais – quiçá até o coração -
para só então te tocar a mente, mas só então, tão e somente.

23 de março de 2010

Deite


te dei uma escada e um martelo,
te dei a mão e o anéu,
te dei o abraço e o beijo,
te dei meu único véu

te dei amor e pecado
livrei-te da prosa e do vício
te vi como um bom amigo
te dei a minha mão

amei com muito cuidado
tratei de dar-te abrigo
firmei forte compromisso
tirei o meu chapéu

no peito o gesto marcado
de tinta secando papel
à noite, desesperado,
acordo sem meu anéu

te dei o céu estrelado
pra onde fostes sozinho
mal soube que do teu brilho
alimentava-se o céu

te olhei, estrela,
e fiz pedido
acreditei
acreditei
no que fizestes comigo