Eu quero a palavra sutil que se infiltre lenta na superfície dos teus cabelos negros,
que te penetre os olhos e os ouvidos e depois, mais rapidamente, avance sobre a tua alma,
depois o fígado, o pâncreas e todos os demais órgãos vitais – quiçá até o coração -
para só então te tocar a mente, mas só então, tão e somente.

29 de agosto de 2009

Ramos da patologia.


Da porta se ouvem batidas. Uma, duas, três batidas. É o monstro de sempre. Abro. Ele se acomoda no divã e diz “Sente-se”. Sente-se. Sente-se, meu querido, prepare-me uma bebida. Uma, duas, três batidas. É o monstro de sempre. Ele diz “Abra-se”. Eu me abro. E me abraço. Então ele me penetra a alma e eu grito. Uma, duas, três batidas. Ele diz “Chega”. Eu me fecho. “Nada mais me penetrará”, eu digo. Uma, duas, três batidas. Uma dor que positivo e negativo não anulam. Sente-se, sente-se, meu querido. Três batidas, toc toc toc. O monstro entra porque você o deixa entrar e sente orgulho em ver as lágrimas do seu reflexo no espelho contornarem seu corpo pateticamente despido. Mil batidas, toc toc toc toc toc toc. Toooooooc. Isso nunca vai acabar.

O zero traz uma neutralidade simplesmente desprezível.
Toc.