Da porta se ouvem batidas. Uma, duas, três batidas. É o monstro de sempre. Abro. Ele se acomoda no divã e diz “Sente-se”. Sente-se. Sente-se, meu querido, prepare-me uma bebida. Uma, duas, três batidas. É o monstro de sempre. Ele diz “Abra-se”. Eu me abro. E me abraço. Então ele me penetra a alma e eu grito. Uma, duas, três batidas. Ele diz “Chega”. Eu me fecho. “Nada mais me penetrará”, eu digo. Uma, duas, três batidas. Uma dor que positivo e negativo não anulam. Sente-se, sente-se, meu querido. Três batidas, toc toc toc. O monstro entra porque você o deixa entrar e sente orgulho em ver as lágrimas do seu reflexo no espelho contornarem seu corpo pateticamente despido. Mil batidas, toc toc toc toc toc toc. Toooooooc. Isso nunca vai acabar.
O zero traz uma neutralidade simplesmente desprezível.
Toc.